Não havia cor. O rosto estava pálido, as lágrimas transparentes, o céu branco, a alma não se via, e eu não sabia se era porquê tal estava transparente ou vazia... Tantas cores na paleta daquele pintor, tão poucas nas vidas dos pálidos com lágrimas transparentes. Não era só um péssimo dia apenas para você, querida. Era um dia para vários suicidas. Ventava lá fora, o vento te cortava, como teus pulsos assim também estavam. Eu vi tudo, desde os primeiros cortes à vez que você tentou se enforcar com o próprio varal, e via-te outra vez. Dessa vez tu ias para cima daquele edifício. Sentia teus pés correndo desesperados pelas escadas, para depois em um instante descer em milésimos de segundos. Você queria morrer, não é? Mas você já estava morta a tanto tempo...
Fiquei sabendo da notícia, isso é maravilhoso! Acredite em mim, no hospital ouvir o som da vida é bem melhor do que o da morte. Sei pois o ouvi, pois me fiz ouvi-lo, pois achei que ele seria o som do fim. E talvez a morte seja mesmo um fim, mas esse fim que você tanto quer não é a morte. Tu só querias as cores da paleta daquele pintor.
Tu só querias as cores da paleta daquele pintor. Sei disso, e sei de quantos cortes você fez noite passada, porquê sou você. Mas ontem mesmo seu fim foi decidido, hoje escutei o som da morte e o choro dos perdidos. Encaro o proibido e tento consola-los com cartas, mas suicidas não sabem ler, não sabem viver, e não sabem que essa é a mais pura mentira, pois conselheiros suicidadas é que nunca souberam escrever.
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